Escutar, acolher e orientar: capacitação une teoria e prática sobre amamentação no HGF

+ Conteúdos

HGF, Hospital Amigo da Criança “Doar leite é um ato de amor”Serviço

A capacitação foi realizada no Centro de Simulação do HGF

Um dia dedicado ao aprendizado, à prática e, sobretudo, ao cuidado com quem cuida. Foi assim a décima edição do Curso da Iniciativa Hospital Amigo da Criança, no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), equipamento da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa). O encontro ocorreu na última terça-feira (11), reunindo profissionais da assistência materno-infantil, com abordagens que vão além da técnica.

“Trabalhar com a amamentação não é só ensinar o bebê a pegar o peito. Antes disso, a gente precisa entender quem é aquela pessoa que amamenta, do que ela precisa e como se sente. É um momento muito íntimo, que pede respeito, cuidado e presença de verdade”, destacou a enfermeira do HGF e uma das facilitadoras, Ana Márcia Bustamante.

Momento teórico da capacitação Iniciativa Hospital Amigo da Criança

Foi nesse momento que Vitória Oliveira Barros, de 24 anos, mãe de primeira viagem e moradora de Horizonte, viveu uma experiência que vai levar para toda vida. Ela participou da aula prática como mãe voluntária e compartilhou como foi ser acolhida pela equipe.

“Foi muito especial. Elas me orientaram com paciência, explicando cada passo, me tranquilizando. Fez toda a diferença. Eu me senti respeitada, acolhida, e isso dá força para a gente nesse momento tão delicado”, contou, agradecida.

Profissionais realizaram atividades práticas durante capacitação

Para Ana Márcia, relatos como o de Vitória confirmam que capacitar a equipe é o primeiro passo para fortalecer o vínculo entre profissional e paciente. “Costumo dizer que a amamentação começa pelo respeito. E esse respeito se constrói com escuta, com cuidado, com afeto. Quem somos nós para tocar no corpo de uma mulher, pegar no peito dela, sem antes perguntar o que ela sente, sem ela saber quem somos nós, né?”, completou.

Ana também destacou que a formação impacta diretamente na saúde de mães e bebês. “Quando a equipe está preparada, a gente evita uma série de problemas, como fissura mamilar, ingurgitamento [inchaço e endurecimento das mamas], desmame precoce, hipoglicemia no bebê… Tudo isso pode ser prevenido com um atendimento mais atento e humanizado. E mais que isso, a gente consegue formar uma rede de apoio de verdade para essas pessoas”, reforça.

HGF, Hospital Amigo da Criança

O HGF possui o título de Hospital Amigo da Criança há 20 anos

A Iniciativa Hospital Amigo da Infância (Ihac) é um selo de qualidade concedido pelo Ministério da Saúde aos hospitais que atendem aos critérios estabelecidos para garantir a excelência no sistema de aleitamento materno.

Desde 2005, o HGF possui o título de Hospital Amigo da Criança, para manter esse reconhecimento, concedido pelo Ministério da Saúde em parceria com a Unicef e a Organização Mundial da Saúde, é preciso seguir uma série de diretrizes e monitoramentos. Entre eles, está a capacitação contínua das equipes, como a realizada na última terça.

“Foi um esforço grande conquistar esse selo em um hospital do porte do HGF. Mas manter esse título é um desafio ainda maior e exige um compromisso diário. Não se trata só de seguir protocolos. É sobre garantir que mães e bebês sejam acolhidos com dignidade, orientação e afeto”, explicou a coordenadora do Banco de Leite Humano do HGF, Virgínia Aragão.

Ela lembra que o selo também representa um investimento real na saúde pública. “Com mais mulheres amamentando, a gente tem crianças mais saudáveis, menos problemas como obesidade, diabetes, menos internações. Isso impacta lá na frente, na vida adulta dessas crianças. E, claro, no próprio sistema de saúde, que passa a lidar com menos doenças que poderiam ser evitadas”, pontuou.

“Doar leite é um ato de amor”

O espaço funciona 24 horas, com profissional de enfermagem exclusiva para orientações

“Eu costumo dizer que doar leite humano é tão nobre quanto doar um órgão. Muitas vezes, aquela pessoa doadora não vai conhecer o bebê que recebeu seu leite, mas, de alguma forma, está ajudando a garantir que ele tenha a chance de viver e se desenvolver”, defendeu Virgínia.

A profissional também reforça o papel essencial do Banco de Leite Humano na manutenção da iniciativa. “É o elo entre tudo isso que a gente ensina e a realidade da UTI neonatal. Às vezes a mãe está em recuperação, sem condições de amamentar. E é esse leite doado que vai salvar a vida de um prematuro,” reforçou.

O banco de leite do HGF funciona com uma rotina cuidadosa e personalizada. As doadoras não precisam sair de casa. Elas recebem os frascos esterilizados em suas próprias casas.

“Nos preocupamos em não ocupar ainda mais o tempo dessas mulheres, que já estão se dedicando intensamente aos seus próprios filhos. Por isso, facilitamos tudo. Fazemos isso para que o gesto de doar seja leve e possível dentro da realidade de cada uma”, explica Virgínia.