Segundo a Anfavea, envio de veículos teve aumento de 40,6% no período, com o país vizinho retornando às compras. Tarifaço de Trump preocupa o setor, com o possível aumento de importações. Produção e exportação de carros dispara em um trimestre, segundo a Anfavea.
Divulgação/Volkswagen
No primeiro trimestre de 2025, houve um aumento de 8,3% na produção de veículos no Brasil, passando de 538 mil para 582,9 mil unidades fabricadas. Os dados foram divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), nesta terça-feira (8).
Mesmo com aumento da produção próximo aos 10%, o mês de março registrou a maior queda na quantidade de carros fabricados desde a pandemia. O tropeço foi de 12,6% no mês, quando saíram 190 mil veículos das plantas no Brasil, contra 217,4 mil em fevereiro.
Segundo a Anfavea, a queda na produção de automóveis aconteceu principalmente por ajuste no nível de estoques, da ordem de 8 mil veículos. Outro fator preponderante foi uma desaceleração nas exportações de março.
No mês passado a exportação de veículos caiu 19%, com 38,9 mil unidades vendidas em março, contra 48 mil em fevereiro.
A entidade também anunciou que a exportação de carros novos atingiu 115,6 mil unidades no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 40,6% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram exportados 82,2 mil veículos.
A recuperação da Argentina foi o principal fator que contribuiu para o aumento significativo nas exportações de carros fabricados no Brasil. Houve crescimento dos mercados da Colômbia e do Chile.
“A Argentina registrou crescimento de 120% e isso acaba impactando as exportações brasileiras, mesmo com uma queda de 19% em março. Junto dela, Colômbia e Chile crescendo também ajudaram nas exportações”, diz Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.
Segundo Lima Leite, o mercado argentino tem capacidade para receber cerca de 500 mil unidades, e o Brasil é o principal país em participação nos emplacamentos no país vizinho.
Veja quais são os países que mais compraram carros fabricados no Brasil:
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Importações registram alta vindo de China e Argentina
As importações de veículos aumentaram 25,1% no primeiro trimestre deste ano, totalizando 112,8 mil unidades, principalmente da China e Argentina, em comparação com 90,2 mil unidades importadas nos três primeiros meses de 2024.
Veja quais são os países que mais enviam carros para o Brasil:
Argentina: 47%;
China: 28%;
México: 7%;
Alemanha: 5%;
Uruguai: 4%;
Tailândia: 2%.
Tarifaço de Trump preocupa o setor
A Anfavea expressou preocupação com a redução do volume de exportação do México para os Estados Unidos, devido às tarifas impostas por Donald Trump.
“Uma vez que a queda acontece, o México vai enviar as unidades para outros países com os quais ele tem algum acordo comercial, como é o caso do Brasil. Muitos investimentos que seriam realizados no Brasil ou Argentina, deixarão de ser feitos para utilizar a capacidade ociosa das fábricas mexicanas, por conta dessa tarifa extra”, apontou o executivo.
A entidade afirma que o Brasil pode ser pouco afetado de forma direta, considerando a produção local de carros, pois o país exporta principalmente máquinas de construção para os Estados Unidos.
Estes são os maiores exportadores de automóveis para os Estados Unidos, segundo a Anfavea:
México: 3,2 milhões de unidades para os Estados Unidos;
Coreia do Sul: 1,6 milhão de unidades para os Estados Unidos;
Japão: 1,4 milhão de unidades para os Estados Unidos;
Canadá: 900 mil unidades para os Estados Unidos;
Alemanha: 400 mil unidades para os Estados Unidos.
A entidade também destaca que as tarifas de Donald Trump podem reduzir a demanda global por veículos, aumentar a capacidade ociosa em vários países e diminuir os investimentos de algumas marcas.
Apesar do cenário pouco positivo, Lima Leite destacou que podem surgir vantagens competitivas para o Brasil ao explorar novas rotas de produção que devem ser criadas devido às tarifas dos Estados Unidos.
Importações da China ameaçam empregos, diz Anfavea
O presidente da Anfavea também ponderou que as importações de carros chineses podem afetar negativamente o bom momento para a geração de empregos. Isso pode ocorrer devido à provável revisão dos cerca de R$ 180 bilhões investidos no país por diversas empresas do setor automotivo.
A entidade informou que, em um ano, foram criados 8,1 mil postos de trabalho diretos. Em março de 2024, havia 101,4 mil pessoas empregadas, e no mês passado, esse número subiu para 109,5 mil.
Outra ameaça é a redução fiscal solicitada por empresas chinesas para a produção em esquema de montagem dos carros no país, sem a fabricação completa do veículo. Conhecidos como esquemas CKD e SKD, a Anfavea aponta que esses métodos são altamente prejudiciais aos fabricantes, empregos e investimentos em toda a cadeia automotiva.
“Esses impasses podem comprometer parte dos investimentos anunciados, sobretudo num momento de grande tensão global, com as tarifas impostas pelo governo norte-americano impactando negativamente toda a geopolítica econômica global, inclusive o setor automotivo nacional e sua longa cadeia de suprimentos”, diz Márcio de Lima Leite.